«Milagre no Rio Hudson»

Um cineasta magnânimo, um ator irrepreensível e uma história real miraculosa poderão ser os ingredientes de um grande filme. Bem, nem sempre. Milagre no Rio Hudson (2016), assinado pelo mestre Clint Eastwood e com Tom Hanks no papel principal, traz para o grande ecrã a história inacreditável de quando o piloto Chesley ‘Sully’ Sullenberger conseguiu amarar um avião em pleno rio Hudson, em Nova Iorque, no ano de 2009. Em segundos, Sully passou de um piloto desconhecido para um herói nacional, pasmando o mundo com a sua perícia. Contudo, o que nem todos sabem – e que este filme explora – é a história que se seguiu e a investigação de que Sully foi alvo, colocando em causa a sua carreira. 

Eastwood é um realizador que nos consegue prender à narrativa e transportar-nos para a realidade dos personagens retratados como se também a vivêssemos. Em Milagre no Rio Hudson, este magnetismo mantém-se, apesar de o resultado final ficar muito longe de obras como Mystic River (2003), Gran Torino (2008) e até Sniper Americano (2014, crítica aqui). Falta alguma profundidade numa obra que não chega a encontrar o seu verdadeiro auge.

Tom Hanks e Aaron Eckhart em Milagre no Rio Hudson. Foto: Out Now.
Tom Hanks acaba por salvar o filme, entregando todo a sua eloquência expressiva e amplitude dramática a um personagem com o qual simpatizamos de imediato. O ator norte-americano jamais falha e esta é mais uma das suas interpretações que valem a pena ser vistas. Aaron Eckhart e Laura Linney acompanham o protagonista e acrescentam mais valor à obra, lamentando-se apenas que a fabulosa atriz não tenha uma participação mais assinalável. 

«Milagre no Rio Hudson» impressiona pelos seus críveis efeitos especiais, uma fotografia enriquecedora de Tom Stern e uma montagem dinâmica, que marca o bom ritmo da obra. O filme é inaudito nos detalhes mas fica aquém no cômputo geral, com um argumento mole e que acaba por não ir ao fundo da questão. Com Eastwood no controlo e Hanks como copiloto, esperar-se-ia um pouco mais. 

(Crítica originalmente publicada no site da Metropolis)